Numa noite de lua cheia nasceu Apuana*, saiu de sua mãe e caiu nos braços do pajé da tribo.Silêncio geral na aldeia, todos esperavam pelo choro do menino, que não veio.
Fato estranho, desconfiaram que havia algo errado com a criança, pelos costumes dos índios, criança que não chora ao nascer, tem algum problema e deve ser sacrificada na hora. Mas antes mesmo de chamarem o cacique para executar a ação, o menino deu um berro, que ecoou por toda mata. Felicidade geral, festa e fogueira para comemorar mais um guerreiro.
Apuana cresceu junto aos seus, era um pouco mais lento que os outros indiozinhos, mas nada que chamasse muito a atenção.
Certo dia a prefeitura da cidade vizinha, mandou para a tribo, alguns profissionais de saúde para verificar e vacinar as crianças de lá. Apuana já contava com 12 anos, era forte e saúdavel, mas os profissionais ficaram intrigados com aquele menino,que apesar da aparência indígena, tinha algo de diferente, desconfiaram de síndrome de Down, fizeram os exames que comprovaram tal fato.
Após a visita dos agentes de saúde ficou decidido que Apuana deveria ir na instituição 03 vezes por semana, cabia a sua irmã mais velha ir de ônibus junto com ele.
Na instituição todos estranhavam os hábitos indígenas do menino, como por exemplo, comer com as mãos.
Apuana sentiu-se um peixe fora d'agua. Não via a hora de acabar com as terapias que lhe eram aplicadas.
Voltava para a aldeia exausto e ainda por cima tinha que aguentar a discriminação que os outros índios passaram a cometer contra ele.
Na aldeia, assim como na instituição passou a ser o "diferente".
Acostumado a pescar e caçar na mata, Apuana foi sendo preterido pelos outros índios e não mais desenvolvia suas atividades na tribo.
Meses depois desistiu de ir à instituição e decidiu viver somente na tribo. Foi aos poucos se restabelecendo como membro ativo naquele local.
Hoje Apuana já é um índio feito, vive feliz com sua família numa reserva em um canto qualquer do estado do Paraná.
* Apuana em tupi significa: "aquele que corre"
Criado como deficiente, vai ser sempre um deficiente. Criado como gente, vai ser gente
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